ITINERÁRIO DA PESQUISA TEÓRICA E DA GRAVAÇÃO DO PODCAST

 

Em julho de 2023, a equipe artística de Pawana – a saber, os atores Celso Frateschi e Rodolfo Valente, o diretor José Roberto Jardim e a cenógrafa e figurinista Sylvia Moreira – e o pesquisador Welington Andrade deram início ao processo de estudo do texto, outrora chamado de “o trabalho de mesa” do espetáculo. No primeiro encontro, Andrade apresentou um perfil biográfico-crítico do escritor Jean-Marie Gustave Le Clézio, discorrendo não somente sobre os principais livros escritos por ele e seus contextos de criação, como também sobre as características estilístico-formais de cada um deles. No encontro seguinte, Andrade apresentou os resultados de sua pesquisa a respeito da criação do texto Pawana, falando especialmente de Charles Melville Scammon, o capitão e naturalista norte-americano em cuja vida Le Clézio se baseou para criar a peça. No encontro posterior, foram analisadas obras lançadas a partir da segunda metade do século XX que tratam da caça indiscriminada das baleias, com as quais Pawana mantém uma estreita intertextualidade. Foram discutidas também as principais linhas de força do texto. No quarto encontro, Andrade apresentou um panorama sobre os estudos acadêmicos a respeito da obra de Le Clézio, de modo geral, e de Pawana, em particular. No quinto encontro, foram debatidos os contornos trágicos e dramáticos da peça, e suas implicações políticas. No sexto e último encontro, Andrade apresentou um estudo a respeito das duas encenações que o diretor francês Georges Lavaudant empreendeu da peça, respectivamente, no México e na França.

Ao final da temporada, a jornalista Lais Louver e o pesquisador Welington Andrade apresentaram um podcast, gravado em quatro episódios, no qual a mesma equipe artística e o músico Piero Damiani conversaram com os dois a respeito do trabalho. No primeiro episódio, foram discutidas as características estilísticas e formais do texto de J.M.G. Le Clézio. No segundo episódio, a jornalista e o pesquisador conversaram com o diretor José Roberto Jardim e os atores Celso Frateschi e Rodolfo Valente a respeito de o que os mobilizou na obra, quais foram os principais desafios de trazer Pawana para o palco, quais são as principais características do texto que a prontidão crítica do teatro contemporâneo pode potencializar e que conteúdos emocionais e estéticos um espetáculo como Pawana filiado ao “teatro narrativo” ou “teatro da palavra” – pode mobilizar hoje no espectador?

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No terceiro episódio, a dupla de apresentadores conversou com a cenógrafa e figurinista Sylvia Moreira e com o criador da trilha sonora, Piero Damiani, a respeito do trabalho deles ao longo de todo o processo. Por fim, no quarto episódio, tratou-se da urgência da discussão apresentada em um texto da envergadura de Pawana, debatendo-se as seguintes questões: o que a obra de Le Clézio tem a dizer ao estágio em que o capitalismo se encontra hoje, estabelecido sobre o desenvolvimento de aparatos tecnológicos predatórios e atividades econômicas extrativistas; que conteúdos políticos o espetáculo aciona no espectador; que tipo de sabedoria há em Pawana que ainda não somos capazes de perceber; como um texto escrito em 1988, referente a eventos que se passam entre 1856 e 1911, lida com a ideia de futuro; e por que fazer teatro ainda hoje, em plena vigência da sociedade do espetáculo, da realidade virtual e do capitalismo informacional?

O processo de pesquisa e de estudos sobre o texto foi essencial para que a equipe resgatasse uma fase tão importante na realização de um espetáculo como o trabalho de mesa, relegado hoje, em muitas montagens, a segundo plano, ou até mesmo inexistente. Já a gravação do podcast ajudou a equipe a consolidar muitas das reflexões suscitadas ao longo do processo, além de registrar oralmente as etapas sucessivas do trabalho.

 

Welington Andrade